Poema em Madeira



Poema em madeira

Não se mede a madeira por sua qualidade

Mas pelo uso que dela se faz.

Assim a madeira da estante é sóbria e séria

(porventura sábia!),

            e a da cama, simpática,

            quente e receptiva.

A madeira da mesa, diversa,

Seja mesa do almoço

Ou da escola.

Tem a madeira malandra,

Dos tacos de sinuca,

            e a madeira íntima,

            dos tamancos.

A madeira submissa

Dos bancos e cadeiras,

A madeira hermética

Das portas e janelas,

E a que é pisada a todo momento:

Dos assoalhos.

            Existe a madeira mágica das esculturas,

            E a que está sempre atrás da porta,

            Do cabo de vassoura.

Tem a que se queima no fogão

E a que sustenta os telhados;

A madeira-ciência das peças de xadrez,

E a madeira viva, jamais derrubada.

            Há, porém, um tipo triste de madeira,

            Com cara de despedida,

            Brilhando em seu verniz

            Mas destinada às lágrimas e à escuridão:

            A madeira dos caixões, dos ataúdes.

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